Diretora técnica do Grupo Conduzir, Júlia Sargi, explica que o bem-estar das mães é fundamental para o desenvolvimento de crianças autistas
O sonho de toda mãe é ver a felicidade e realização dos seus filhos. Para as mães de crianças atípicas não é diferente. A maternidade, por si só, é considerada como um dos maiores desafios na vida da uma mulher, mas quando se trata de mães com filhos que necessitam de cuidados especiais, essa realidade se torna mais desafiadora. Ser mãe de uma criança diagnosticada com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), por exemplo, é descobrir um universo amplo e ainda pouco conhecido.
No Brasil não há uma estatística oficial do número de crianças autistas, mas pesquisas realizadas nos EUA mostram que houve um aumento dos diagnósticos nos últimos anos. Dados recentes do Centers for Disease Control and Prevention(CDC), órgão de controle de saúde americano, apontam que a cada 36 crianças 1 é diagnosticada com TEA, indicando um aumento significativo no número de diagnósticos. Com isso, mais mães se descobrem vivendo a maternidade atípica.
Ao receber o diagnóstico, é normal que as atenções se voltem aos cuidados necessários ao bem-estar da criança. Numa sociedade em que a expectativa e sobrecarga dos afazeres familiares recaem sobre a mulher, em muitos casos, a mãe é a responsável por cuidar e atender a todas, ou a maioria, das necessidades do filho autista. Por conta dessa dedicação, em sua maioria, exclusiva aos filhos, precisam abandonar a profissão, já que a rotina é incompatível com a política da maioria das empresas. Com tantas demandas, essas mães deixam de priorizar o seu próprio bem-estar e o autocuidado e, com isso podem chegar em um estado de esgotamento.
De acordo a diretora técnica do Grupo Conduzir, Júlia Sargi, é muito importante voltar o olhar para a saúde e bem-estar das mães atípicas. “Com o foco nos cuidados com o filho com TEA, essa mãe esquece dela mesma. É preciso lembrar que o papel da família é fundamental no desenvolvimento da criança neurodivergente e, por isso, é essencial que essa mãe também receba o devido acolhimento da sociedade, da sua rede de apoio e até mesmo dos profissionais que realizam a terapia”, lembrou.
Psicóloga e especialista no atendimento de pessoas com autismo, Júlia explica que a terapia ABA pode ser uma grande aliada. “A terapia facilita a vida das mães, de forma concreta, ao organizar todo o processo de desenvolvimento dos filhos atípicos. Isso garante um suporte em momentos importantes da trajetória dessas mães proporcionando um aumento da qualidade de vida da criança e, consequentemente, da família”, destaca.
Como todas as mães, as atípicas também enfrentam medos, inseguranças e culpas, mas ainda precisam lidar com a falta de informação, o preconceito e muitas vezes são excluídas do convívio social.
A coordenadora do setor de jovens e adultos do Grupo Conduzir, Josiane Mariano, é mãe de um filho autista de 12 anos. Ela considera que existe uma pressão social sobre a maternidade de maneira geral. “A sociedade exige que a mulher exerça o papel da mãe perfeita e isso não é diferente para nós, que somos mães atípicas. A sensação de não estarmos fazendo o suficiente é um grande criador de culpas em um processo que não existe certo ou errado”, avalia. Ela acrescenta que ser mãe de um indivíduo do espectro autista gera uma insegurança ainda maior.
Mãe de três filhos atípicos e dedicada a eles em tempo integral, Juliana Caiaffa, 44 anos, descobriu que tem autismo depois da chegada da maternidade. Os filhos com 11, quatro e três anos foram diagnosticados com altas habilidades, superdotação e TDAH. Apesar das inseguranças e desafios, ela é exemplo de que a maternidade atípica, com acolhimento e apoio, faz a diferença e não deve ser um tabu: cada objetivo alcançado se torna motivo de felicidade. “A cada dia eu vejo que a desinformação atrapalha muito a maternidade atípica e com isso os prejuízos para as crianças são imensos. Aceitação e orgulho dos nossos filhos é o primeiro passo”, declara.