De antemão à clonagem humana, avanços na genética e redes neurais artificiais parece eclodir, de uma ponta, um novo modelo médico – aquele no qual acho que me enquadro ou estou no esquadro. No consultório de hoje estampo uma camisa intitulada “simplifique” e uma calça jeans normal, obviamente com tênis. Estudamos o encéfalo e a medula, centros de controle dos movimentos, sentimentos e reflexos. Vejo muitos colegas parecidos com George Cooney em “Plantão Médico” ou mesmo com jovens de séries Americanas. Um charme e postura protegidos e blindados por termos e gravatas; ou saltos barulhentos e carimbos cintilantes para as moças. Enquanto uns mergulham em descobertas relacionadas ao controle da febre amarela (antiquíssima) e dengue; tentam melhorar a qualidade dos serviços de saúde pública, outros, na contramão, não menos importantes, sofrem da sindrome da “chefite” (com seus terninhos brancos panamá). No mundo real, com um enorme número de jovens abarrotados no mercado de trabalho, nem sempre competentes de cultura geral, lá se vai o médico perdendo o seu “status”.
Esses deveriam se preocupar com o valor ínfimo repassado pelos planos de saúde e a beleza irreal desses grandes pseudo-centros de referência médica. Ser um bom médico requer saber anamnese, tocar no paciente, questionar dores e achados, palpar pulsos, escutar e auscultar coração e pulmões – também entender o que se passa nas lamparinas cerebrais. O médico não pode ser um prescritor de exames de laboratório e de imagem sem saber o que fazer com os resultados, pois, sejamos sinceros, quem é perfeito de cabeça e de anatomia?
Num mundo da relação médico-paciente, as máscaras cairão após a rápida comunicação com o google; as aparências enganam por minutos e só se sustentam se houver conteúdo e resultado. Não adianta ser de “Hollywood” e ter um mesquinho encéfalo de noz. Enquanto isso, sai sonda, muda antibiótico, volta sonda, muda antibiótico, volta a ser uma bagunça.