Em 1666, na Inglaterra, alastra-se a peste bubônica e, indubitavelmente, medo e pânico entre os moradores de Eyam, vilarejo a cerca de 56km a sudoeste de Manchester. Sob direção do pároco, os habitantes lutaram embutidos com todos os sentimentos em suas agitadas mentes. A doença que já “matara” a Europa, passou a caminhar em passos largos, para as arestas do mapa – como tentáculos de um polvo. A única solução para esse grupo de moradores fora a resiliência, a perseverança e a luta.
Sempre diante de um pior cenário existe uma possibilidade de uma eclosão do melhor de nós. Essa foi a explicação que forneci para o esposo de uma paciente com ELA (Esclerose Lareral Amiotrófica), que interrogou-me:
“Marco, como você é especialista nessas doenças você encara isso com naturalidade, não é?”.
Não. Nenhum médico que está diante de uma assustadora doença age de forma natural. Algumas vezes é preciso fingir que está tudo bem, pois a esperança existe. Com esperança somos surpreendentes. Retenho pensamentos e emoções conflitantes, mas sigo em frente como o personagem do famoso filme “O livro de Eli”. Muitos desses sentimentos, abarcados com o avanço da medicina, da genética e de algo que considero próximo à Deus, me fazem caminhar passo a passo, perdendo muitos no meio do caminho e, obviamente, uma parte de mim.
Sempre vou optar investir na chance e no amor que na frustração e no pânico. Caminho com medo, mas sigo, com propósitos e respiração controlada. Sei que estou cara a cara com a peste, mas não a deixo entender o que penso. Acho que é isso. Aprendi com um amigo e exímio lutador que não podemos arregalar os olhos no primeiro golpe (Ricardo Arona já dizia). Assim, vou sendo golpeado. Algumas vezes ganho, como com a Vilma. A maioria eu perco, mas continuo a caminhada.