Desde a nossa infância entram e saem informações de nossos neurotransmissores. Algumas, de forma inconsciente, fazem uma espécie de seleção, análise e escolha de dados com os quais possuímos empatia. Isso também dá se no mundo animal e, na maioria das vezes, é o termômetro para o mantimento de espécies. Na atualidade, ter, conviver e fazer novos amigos é uma árdua tarefa. Particularmente não gosto de me relacionar com grande número de pessoas. Sou uma espécie de peixe esquisito; daqueles que sai da toca, analisa o ambiente e só locomove as braçadeiras se for muito verdadeiro.
O simples emprestar a chave do nosso coração ou mesmo abrir a porta de nossas casas ainda precisa ser mais entendido pela neurolinguística. Antes, brincávamos todos sobre móveis, subíamos armários, quebrávamos (na auge na aflição genuína de brincar) utensílios de casa e no final nossas mães ligavam para os respectivos pais e diziam:
“Fulano de tal é impossível, mas traga-o de novo e sempre, pois é uma criança do bem”.
Hoje me permito selecionar quem é companhia para o cardume de minha microvida. Sou uma espécie de peixe que não gosta de companhia, mas os que me ladeiam sempre terão resgate, olho no olho, confiança e, principalmente, a certeza que não ficarão para trás; mesmo que isso possa custar algo em minha vida. Não preciso dizer que João e Bento são vistos por trás, pois nado na retaguarda.
Dos contatos que foram filtrados por áreas específicas do meu encéfalo ficaram alguns, todos com particularidades: Leandro Artiles (verdade), Danny (generosidade), Paulo Sally (empatia), Maurício (energia), Dudu Paranhos (irmão), Júlia Fernandes (amor genuíno), Murilo Rupp (simplesmente um novo amigo), Rômulo Sarmet (compromisso), Eduardo Flexa (um gostar de graça), Ricardo Arona (família e simplicidade), Marco Araújo (bondade), Melo Reis (paternidade) e Acary Bulle (pureza). Nesse cardume também existem peixes com características peculiares, mas ressonantes com meu sistema de recompensa, dentre eles: Joao Márcio (sinceridade), Raul Muniz (paz), Jano Alves (espirituoso) e Patrícia Garcia (generosa). E o que falar da Sônia (diferente de tudo; grande amiga).
“Marco. E por que explana esses sobrenomes, já não está claro de quem falas?”
Sim, mas pretendo que os filhos do meu cardume vejam a importância dos seus respectivos pais na vida de um amigo. Na esfera profissional tudo é muito difícil, pois desde que crescemos e desenvolvemos aptidões, começamos a ser alvos ou objetos de caça ou inveja, mesmo não ofertando nenhum perigo. Alguns predadores não querem algo nosso; simplesmente os irritam o simples fato de termos esse algo que, por vezes, nós próprios desconhecemos. “Quem sabe a luz! A presença de Deus!”. Por isso, às vezes a gente só percebe a importância da minutagem com os amigos quando os momentos se tornam lembranças. E mesmo que ninguém veja, faça o melhor para o seu cardume todos os dias. Precisamos educar a maneira que educamos a nós mesmos para partimos para as gerações mais novas. A escola não educa os meus filhos, mas serve como modelo de tatearem o que promovem bons e maus sentimentos. Não quero que se tornem predadores fugazes; tipo aqueles do topo. Desejo que se tornem felizes e humanos. E não são cursos pré-vestibulares que irão provocar-lhes cicatrizes físicas, danos lentos mentais e angústia. Eu não vou deixar. O único modo que temos para permanecer em micro-cardumes é continuarmos em mudança e entendermos que o sentido da vida é driblar, em conjunto, correntezas amorais e tempestades do comportamento humano.
Foi assim que vencemos o fantasma da AIDS, com o aperto de mão. Agora com a COVID-19, através de um abraço. Os cardumes de homens se vêm plenos de tecnologias e vazios em certos sentidos. Um dos grandes desafios é como conciliar essas duas funções. Para tal, todo processo de direcionamento de peixes no contexto de um cardume que visa um futuro deve ter compromisso com a verdade e igualdade, e ele só poderá ser pensado dentro da compaixão. Desejo muita vida a todos os cardumes do mundo, mesmo não os conhecendo.
Dedico essa crônica para a Tia Leila Arona, uma cordial senhora que amo muito por ser simples. Não posso deixar de citar um amigo e professor chamado José Suassuna, que cuida de minhas barbatanas com muita capacidade técnica e amorosidade.
“Professor, seu bonsai está quase pronto”.