Niterói, como toda cidade provinciana, possui um povo extremamente preocupado com a vida alheira. Como temos fofoqueiros por aqui – aos montes. Na terra de Arariboia habitam muitos idosos, lembrando um pouco as ruas de Copacabana. Cresci em Charitas e parte da minha adolescência em Icaraí. Percebo que minha cidade vem passando por um rebaixamento no processo de educação, empatia e compaixão – está em coma. É notório que o mundo virou de cabeça para baixo, com o enfrentamento de momentos terríveis, ,porquanto, o pavio está bem mais curto. Me considero um sujeito educado e discreto, mas ontem como fiquei chateado. Existem horas que pedimos para que nossos filhos não estejam perto. Na fila de um estabelecimento de Pão de Queijo, local onde sou muito bem recebido por Matheus e todas as vendedoras, eis que aparece uma figura bem no estilo “hoje estou pronto para arrumar confusão”.
Estávamos de máscara e antecedendo o macho alfa para o pagamento das despesas. Repentinamente, o sujeito tosse e espirra sem máscara. Minha reação, como de qualquer ser humano, fora de rodar a região cervical e olhar – aquela tosse pareceu-me um trombone. Não olhei para reprova-lo, mas porque o barulho assemelhou se a um porco com faringite. Ele não tossiu com destreza, pois além de não estar de máscara fez questão de reproduzir ali que era machão. Por falar nisso como tem machões espalhados por aí. Enfim, eis que o tal olha para mim e pergunta. “Você não gostou não? Vou continuar sem máscara e se quiseres utilizar o problema é de vocês. Faço o que eu achar melhor”. Bem, para essas pessoas o silêncio é uma espécie de oração.
Dei lhe as costas, mas esqueci que estampada na minha blusa tinha um símbolo da academia do Royler Gracie. Ele me deu de presente há anos; além disso gravou um vídeo lindo para João e Bento convidando os para conhecermos a academia na Califórnia. Sempre gostei desse esporte, mas nunca me meti em confusão – minto, foram raras na época de adolescente. Voltando à crônica, o castrado mental me toca e pergunta. “Aí, você e lutador? Que camisa é essa?”. Respondo lhe com uma sutileza emanada por Dalai Lama – o silêncio. Incomodado com a ausência de respostas essa criança lobotomizada não se contenta e começar a dar “chiliquitos”. Paguei a conta, comi os pães de queijo e bebi mate com as crianças e afirmo ter ficado mais constrangido que ele.
É óbvio que cientificamente não existem estudos provando que as máscaras protegem como gostaríamos. Particularmente creio que o distanciamento social, o uso de máscaras por todos, medidas de higiene e outras boas maneiras poderiam ter alentecido a propagação do vírus. Usar máscara possui algumas particularidades: simplicidade, evita de colocarmos a mão na boca antes de nos alimentarmos ou mesmo lembramos de lavar as mãos; provoca um “efeito” cascata de segurança quando todos a utilizam, impedindo, de certa forma o pânico. A ciência já produziu muito conhecimento sobre esses apetrechos neste período, demonstrando que, se bem feitas e usadas, as máscaras são, lado a lado com a higiene pessoal e o distanciamento social, já citados acima pelo autor que sou eu, as principais estratégias para ajudar a conter a disseminação do vírus.
E assim devem permanecer por muito tempo, mesmo após a chegada de uma ou mais eventuais vacinas contra a doença. As novas cepas estão chegando por ali e ladeadas à elas mais jumentos, como o sujeito por mim descrito. Mas, assim como enfrentamos os infames movimentos antivacina por débeis mentais, agora vemos fazer crescer uma resistência antimáscaras. Em alguns casos, a desculpa é o “incômodo” causado por elas, muitas vezes justificado por temores sem embasamento científico. Isso já está chato e cansativo.
É um tal de chove não molha sem sentido e ausente de empatia com o próximo. Uma falta de respeito típica do povo brasileiro que se esforça, a cada dia, por fazer coisas piores. Esse discurso antimáscaras ecoa na mesma sintonia equivocada de defesa da liberdade individual, ignorando o interesse coletivo e da saúde pública, principalmente no contexto de uma pandemia que já matou quase 1,4 milhão de pessoas em todo mundo. Atualmente, muitos brasileiros ainda veem as máscaras como um sinal de que o usuário está doente, ou que é frágil, covarde e tem medo de gripe. Vou finalizar essa crônica e dedica lá ao rapaz da fila do pão de queijo. Gostaria de desejar para ti um feliz ano novo, saúde, paz e felicidades. Que a empatia seja o seu maior ganho em 2021. Não fiquei chateado, mesmo lhe chamando de asno. Estou feliz por estar com saúde. Peço somente que procure um psicanalista, pois você se superou em biscar um confronto que jamais lhe daria, exceto que falasse algo de meus filhos. Não seria intelectual.
Mesmo assim te aprecio como ser humano. Acho apenas que se fizermos uma ressonância magnética do seu crânio iríamos encontrar uma noz. Essas estão caras, principalmente na época de final de ano. Tente vende lá, mas fale sobre os erros de fabricação. Um feliz ano novo para todos vocês, leitores e também para os cabecinhas de ervilha