Vivemos esperando dias melhores. Melhores no amor, melhores na dor, melhores para sempre. Todos acreditamos em alguma coisa, temos uma espécie de mandinga, um apetrecho; que pode ser desde uma imagem divina, como a que perdura no meu quarto desde o falecimento do meu avô. Hoje, se vocês me permitem, gostaria de falar um pouco de mim.
Sou um médico que acredita em Deus, com unhas e dentes. Indubitavelmente não sei como seria a sua forma, dimensão, costumes e maneira de trabalhar. Lembro de uma passagem de um livro chamado “Superar o Impossível” de Christopher Reeve. Quando questionado sobre sua crença na presença de Deus, o ator respondeu: “Quando saía de casa e fazia tudo que me completava, inclusive o bem para as pessoas, me sentia bem. Entretanto, alguns dias onde não era possível me doar como ser humano não adormecia na paz. “Essa é a minha religião – afirmou o ator”. Em 27 de maio de 1995, Reeve ficou tetraplégico, após sofrer um acidente a cavalo durante uma competição equestre, passando a usar uma cadeira de rodas para se mover e um ventilador portátil para respirar. Liderou uma campanha pela legalização de pesquisas com células-tronco e criou a Fundação Christopher Reeve. Também fora cofundador do Centro de Pesquisa Reeve-Irvine. Faleceu em 10 de outubro de 2004 aos 52 anos, de uma grave infecção pulmonar, em virtude do seu estado de saúde.
Não costumo ir às igrejas rezar, fazer promessas. Tenho uma espécie de débito enorme com Deus. Desde que perdi avô e mãe, peço muita proteção para meus filhos. Tento, sobremaneira, fazer com que ninguém saia da minha presença sem se sentir melhor, ou com fome, com sede – mas sei das minhas limitações.
Trazendo para dias atuais percebo candidatos fazendo uso da Bíblia, de suas deficiências físicas, doenças de filhos ou aspectos religiosos como apetrechos formadores de um exímio caráter para conseguirem votos. Já tive raiva, mas hoje sinto pena. Quem se doa, quem se preocupa, quem ama, quem quer o bem não precisa se expor. As pessoas do bem não ladeiam os holofotes, pois eles ofuscam um sentimento puro que brota do coração. Fazer o bem não é difícil, se carreamos isso dentro de nosso DNA. É fato que proporcionar maldades e falcatruas também é fácil – tudo depende do que está plantado dentro de nossos corações. Do bem ao mal e do mal ao bem são milésimos de segundos.
Essa semana presenciei uma dessas estúpidas “lives”, esta direcionada por um médico em negrito desaprovando o uso de máscaras e caçoando da população. Em parceria com outra pessoa as chamavam de “mordaças”. Infelizmente é difícil contra-argumentar com quem pisa e transforma o medo em pânico, ainda mais um médico. Ao colega de profissão, atento que mordaças são, no cerne da palavra, tiras fininhas de panos, cordas ou qualquer outro material com que se ”cerra” a boca de uma pessoa, impedindo-a de falar ou gritar. Porquanto, eis seu primeiro erro. Máscaras contra o vírus SARS-COV19, não são mordaças, pois protegem também as narinas e permitem que falemos. Existe uma segunda definição que é oriunda dem.q. AÇAIMO (‘peça de couro ou de metal’). Acho que esses jovens deveriam retirar o sarcasmo e as risadas de suas bocas e transformarem a fala em esperança, não em deboche.
As pessoas não precisam de médicos como você. Precisam ser ouvidas, sentidas, abraçadas e, obviamente, bem medicadas e acompanhadas. Essa medicina é vulgar, fria, amoral. Nenhum médico tem o direito de provocar pânico e retirar a esperança das pessoas, mesmo que não tenhamos estudos randomizados e controlados que justifiquem o uso das máscaras. Nosso povo está cansado de “estupradores” de sonhos e esperanças.
Gostaria de esclarecer uma coisa aos leitores antes, obviamente, de pedir como amigo médico, que acreditem em algo que os proteja, mas que faz-se necessário ser regado todos os dias. Somos maioria dentro de nosso País; o grande problema é que a maldade fala mais alto, age com agressividade, com impulso e naturalidade. Muitas vezes está escondida nos sorrisos, nos detalhes, no olhar, no dinamismo da vida. Já passamos da hora de demonstrar nossa força. É impossível não ter um movimento idealista e amoroso, que vá às ruas em prol de melhorias de condições de vida da nossa população. Devemos continuar marchando, porque acreditamos que é preciso conquistar outros lugares, que a sociedade ainda precisa aprender e se transformar. O principal lugar deverá ser o coração de nossos pares.
Queria dedicar essa crônica a todos que acreditam, de alguma forma, em resquícios do socialismo e da igualdade social. Também enalteço a imagem de Deus; essa que deve nos acompanhar em todos os segundos do dia. Quanto ao médico da gravação, todos nós sabemos que a máscara não confere segurança plena, mas não tire, nem caçoe de quem as usa.
Quando penso em Deus e na figura de um Médico, imagino Tio Thales Baptista de Freitas. Chamo-o de tio, pois cresci e estudei junto com meu amigo Leandro Artilles; sempre será chamado de Leandrinho. De passadas lentas, semblante do bem, competência guardada em seu encéfalo. É um Médico que assim como eu, também acredita em Deus. Uma das maiores autoridades da Pediatria. Lembro-me que seu estetoscópio possuía uma espécie de sexto sentido e um poder de cura. Sempre que tio Thales saia de nossas casas, eu lhe dava um beijo e falava: “Obrigado vô”. Era horrível pagar…tinha que afunilar as notas no seu bolso e esconder. Ele não vinha por dinheiro, mas por amor e na crença de seu débito com Deus. Eduardo Morsch de Mello também é assim – um grande abraço para o senhor – sempre o nosso Dudu.