Infelizmente nosso País contabiliza um número de aproximadamente 145.000 mortos por esse infeliz vírus. Perdi dois grandes amigos, parentes próximos não, entretanto percebo diariamente em mim um sentimento de medo não de pânico. O primeiro faz-nos criar estratégias para lutar, enquanto o segundo só serve para esmigalhar o coração.
Passo dias atípicos, corto cabelos de João e Bento, estou tentando alfabetizar o segundo, levo-os para passear e, obviamente, busco estratégias para minimizar os danos às criaturas que mais amo nessa vida – muito mais do que a mim. Não consigo fingir que não estou com medo, mas com intenso sentimento de gratidão. Essa pandemia me afastou de muita gente, aproximou-me de meus reais amigos e permitiu-me saborear as pupilas dos pequenos.
Hoje li com Bento um pequeno trecho de um livro sobre astronautas. Perguntei ao pequeno, sobre partes da leitura e sorri com a vontade do guri, quando tentava soletrar as palavras. Em contrapartida, existem quatro trabalhos de Mestrado e Doutorado, que ainda estão por aqui, parados, inertes, mudos.
Às vezes tenho uma ligeira impressão, que as pessoas pararam de ler; que alguns são protocolados dentro de uma caixinha, previsíveis e consensos com tudo. Pergunto-me como seriam sem essas rédeas impostas pela literatura. Isso nada tem a ver com uma figura narcísica e arrogante de quem aqui escreve. Vou adiante, esse é um mal que assola muita gente e sinceramente, torço para que não respingue em meus filhos.
No intuito de diverti-los durante a pandemia, eles conheceram algumas pessoas, dentre elas um alfaiate com uma bela história de vida. Hoje, enquanto degustávamos pães de queijo com mate, observamos uma espécie de dança de micos debruçados sobre nossas cabeças. Há tempos venho me considerando um animal capaz de pensar algumas coisas nesse ainda belo planeta; isso, por si, já é um privilégio e aventura. A ignorância que me afeta em algumas áreas, pode fazer parte disso tudo.
O mundo hoje parece ameaçador; na verdade ele sempre será uma selva. Graças a Deus a companhia de alguns amigos e de meus filhos parecem clarear o Universo. Ainda é possível contarmos o número de micos numa árvore, assim como sua maneira de agirem para com seus companheiros. Sempre ao nosso lado existe vida. É preciso agradecer.
Desejo essa crônica para meus professores Carlos Henrique Melo Reis e Acary Souza Bulle Oliveira – dois grandes Médicos e gênios. Também oferto-a para meu pai. Não nos vemos com freqüência, mas isso não impede de amá-lo muito.