Pensando no que iria escrever hoje, algumas questões que sempre me incomodam, apareceram e olhem que são muitas. Então vamos tentar abordar algumas. Certa vez um amigo me falou: “Marco, não se fie em muita cortesia para com as pessoas”. Obviamente lhe perguntei o porquê de tamanha desconfiança no ser humano. Tenho certeza que alguns encantam e nos seduzem – parecemos tolos. Observo que é normal na sociedade em que vivemos, entretanto, não podemos deixar nunca de acreditar. A sociedade está adoecida, mas eu não desisto do ser humano.
Acreditar numa amizade “sincera”, quando no nadir de suas almas, talvez não sintam prazer em torná-la realidade, faz com que hoje eu viva meio recluso, mas feliz e grandioso, com a minoria de amigos que me ladeia. São poucos, alguns intelectuais, outros lutadores, poucos do coração. Creio que exista uma tal de cortesia exagerada, desusada, cafona, melosa e descabida. Em nome disso percebo que não precisamos de atitudes, pois o distanciamento e o silêncio são orações para tais situações.
Acho que o meu principal defeito é ser sincero e coerente nos discursos. Provavelmente alguma anomalia não caracterizada como síndrome, uma espécie de liberação frontal não patológica. Existe um filtro entre o que penso e indubitavelmente, nas minhas verbalizações e gesticulações. Tento me vigiar, mas já faz parte na minha natureza ser assim.
Quando penso e falo de sinceridade, amizade, tenho de me reportar a Elizabeth Orsini, (afinal ela nunca sai de perto), Devo ter herdado de minha mãe essa destreza de relacionamento – algo puro, desarmado e sincero. Obviamente como mencionei acima, existem aqueles que aprimoram os requintes de crueldade e aniquilam o que é mais importante nessa nossa passagem – fazer o outro feliz – seja lá de que maneira. Não tenho comandados, tampouco essa tal liderança natural, não por covardia, mas por opção – deve ser chato delegar funções para os outros. O sucesso da humanidade, para ser perene e duradouro, deve resultar numa observação coletiva. A conduta correta é o espelho de nossas almas, o socialismo, a falta de ambição… É uma das mais difíceis e sagazes ações da vida.
Gerenciemos nossas emoções sempre com uma intenção inesperada – obviamente alguma que seja cativante. Creio que a vida do homem é uma espécie de luta contra a malícia do próprio homem. Vamos nos propor uma alternância do jogo, obrigando aos que parecem sentir raiva ou algum sentimento ruim a modificarem seus comportamentos. Usemos esse estratagema para “fingirmos” uma certa ingenuidade – qual mal nos trará?
Essa semana foi difícil. Senti muitas saudades de minha mãe. Não posso falar de pureza de sentimentos, sem citá-la e isso me comove. Usarei então dois trechos para defini-la. O primeiro de Marco Antônio Araújo Leite: “Uma pessoa admirável, incrível, gentil como não vemos mais. Importava-se com todos, como uma moça de um café, que havia desaparecido e promoveu uma campanha. Uma mulher que a vida tinha esquecido, menos a Bety. Tive pouco tempo com ela, mas aprendi o quanto era especial, diferenciada. Pior para o mundo… mas, ela está entre nós. Somos capazes de ouvir o seu sorriso”.
O segundo, Carlos Henrique Melo Reis, quando disse: “Conheci a Bety Orsini muito antes de conhecer seu grande filho Marco Antônio, cuja apresentação telefônica de modo caloroso e afetivo fora feito por um amigo de grande admiração, Marcos de Freitas”.
Sempre fui um amante da Literatura, principalmente da Poesia. Por hábito paterno era leitor diário do “O Fluminense”, onde encontrei na juventude as crônicas do José Cândido de Carvalho. Suas crônicas eram deliciosas. O livro de contos “Um ninho de mafagafos cheio de mafagafinhos”, mantenho-o até hoje como relíquia, porquanto tive o imenso prazer de ser apresentado ao Escritor campista pelo meu saudoso pai. Andando o tempo, eis que me deparo com textos de amor e sexo escritos com humor e delicadeza. Depois, o brilhante segundo caderno – Prosa e Verso – tão esperado suplemento semanal de “O Globo” e lá estava Bety.
Como sou filho do rádio, cheguei a escutar algumas de suas entrevistas na rádio globo. Fui amigo do saudoso jornalista Paulo Perdigão, sartriano como eu à época e autor de um delicioso livro: No ar: PRK-30 era o responsável pela seleção de filmes na Sessão da Madrugada da TV Globo e não raros os momentos falávamos sobre a presença da mulher escritora no cenário Nacional.
Dedico essa crônica a vocês, Marco Antônio Araújo Leite, grande amigo e professor e Carlos Henrique Melo Reis, por quem sinto imensa afeição. Falamos a mesma língua, porquanto, seguiremos sempre em busca da igualdade social e contra a banalização da vida – fato cada vez mais assustador nos dias atuais. Dê um beijo no Pedrão por mim.
Queria aproveitar para lembrar nessa crônica, os milhares de animais mortos durante às atrocidades provocadas pelas queimadas. Tive o desprazer de visualizar onças com os membros queimados, jacarés carbonizados e o tórax de roedores em carne viva. Escutei muita imbecilidade de necropolíticos sobre tal incidente. Façamos nossos papéis como sujeitos dignos, mesmo que em minoria. Busquemos pares, que nos auxiliem a carrear suas felicidades e tristezas.