Hoje está frio. Um frio que me assombra e parece estar vivo. Durante toda a minha trajetória de professor universitário nunca me apaixonei por ninguém, muito menos paquerei minhas alunas. Era óbvio, pois fui casado por 17 anos. Tampouco julguei esse tal de romantismo e admiração que possuem por professores. Na verdade nunca me considerei um deles – gosto de ser chamado de Marco.
Estou um pouco melancólico por tudo que estamos passando e por uma questão que atualmente tem chacoalhado meu coração. Decidi escrever essa crônica para expressar que deveria existir uma lei contra os sentimentos puros dos nossos corações. Se julgar é até difícil nos fóruns e nas bancas de mestrado e doutorado, imagina quando esse chega às nossas atitudes. Os sentimentos e a intuição não são brinquedos que podem ser manipulados pela opinião dos outros.
Nunca condenei o passado de nenhum ser humano nem sequer julguei erros. Já carreio os meus e não são poucos. Creio que nosso destino esteja em parte sendo norteado por Deus, entretanto observo muitas pessoas sendo persuadidas e achincalhadas por escolhas. Escolher e ser livre são uma das coisas mais importantes da vida – essa que roda com rapidez os ponteiros.
A Carta de Tarot número XX dos Arcanos Maiores é a do Julgamento, que indica um Novo Ciclo de Vida. Quando essa surge sinaliza que os nossos pensamentos, palavras e ações estão a ser julgadas nas esferas subtis, Deus (seja qual for a ideia que ele tiver) está a julgar as suas atitudes.
Devemos por as mãos em nossa consciência e decidirmos simplesmente… as mudanças em nossa vida podem indicar o final e, posteriormente, um novo ciclo. Num relacionamento que enfrenta muitas dificuldades é impressionante a quantidade de pessoas para proferir julgamentos. O grande problema são os milhares de pontos de interrogação postos num encéfalo que já possui poder decisório. Ninguém deveria ser julgado quando o assunto é amor; um adjetivo melhor aplicado poderia ser a palavra orientar.
Canso de ouvir pais julgando filhos, parentes ofertando “pitacos” na vida de terceiros e uma indefinição do sujeito que deveria decidir por ele mesmo. Em alguns casos são proferidas palavras de baixo calão, dedos apontados diante da face e reações na fisionomia. Nunca podemos julgar a vida dos outros, porque cada um sabe da sua própria dor e renúncia. Hoje me perguntaram o que eu achei sobre a tal aglomeração de jovens em determinado bar na zona sul do Rio de Janeiro. Meus olhos já deram a resposta sem julgar, mas também fizeram entender a quantidade de repressão e, conseqüente, doenças de cunho emocional que o confinamento está provocando.
Possivelmente o leitor me perguntará se não achei uma cena absurda diante de milhares de mortes e dor alheia. Sinceramente, eu não iria; meus filhos se maiores de 18 anos receberiam uma orientação sobre empatia e respeito com o outro. Provavelmente estariam alertas as minhas palavras, pois nunca os julgarei por nada nesse mundo – são escolhas que possuem um preço. Nesse caso podem custar caro para as outras pessoas.
Voltando para a questão da crônica observo que as pessoas constroem barreiras cerebrais ao invés de atalhos sinápticos. Criar ligações com outras pessoas tem os seus riscos e, felizmente\infelizmente, nunca saberemos se dará certo. Tenho certeza que jamais teria um relacionamento amoroso pelo simples fato de estar ao lado de alguém e me sentir numa posição de comodidade – isso seria morrer em vida.
É necessário explorar o mundo e as vivências, obviamente, com cautela. Acho que só assim ficaremos mais ricos por dentro ou, contrariamente, viveremos numa gaiola, não num ninho.
João e Bento, papai sempre estará pronto para escutar e direcionar vocês, mas nunca impor. Se assim fosse entraríamos na estória da filha do camponês ser obrigada a casar com o senhor do engenho. Termino essa crônica e as últimas páginas do livro: Mozart: A Life in Letters by Wolfgang Amadeus Mozart.
“Quando a gente anda sempre em frente, não pode ir muito longe”…O Pequeno Príncipe