No dia 21 de março é celebrado o Dia Internacional da Síndrome de Down, data para se refletir sobre a inclusão social, tema que deve sempre estar no cotidiano de toda a sociedade. Meu papo essa semana é com a Educadora Adriana Neves, responsável pelo evento ‘Niterói Down Click na Beleza’, que ocorre anualmente no mês de março, com show de talentos, desfile de moda e atividades culturais. A Adriana, mãe do Arthur (17) e do Davi (5 com SD), me contou sobre a importância do evento e da necessidade do olhar humano para a política inclusiva. Saiba como a Vida dela se transformou para melhor após a chegada do caçula Davi:
Flavia: Quem não vivencia a realidade do mundo da Síndrome de Down, talvez não imagina o tamanho da importância da inclusão social. Fale como a experiência transformou a sua vida.
Adriana: O nascimento do Davi ressignificou nossas vidas.Como mãe, senti a necessidade de fortalecer uma rede de pais para a troca de experiências e apoio entre as famílias. O Davi alargou em mim o olhar da inclusão, antes marcado mais com o viés de classe social, fortalecido no trabalho pelas comunidades e periferias por onde atuei como professora. Ele nos mostrou a importância do fortalecimento da luta pela inclusão das pessoas com deficiência e desconstruiu meu olhar limitante das potencialidades da pessoa com deficiência. Me fez abrir novos rumos e percursos e, graças a ele, hoje me tornei Mestra em inclusão e diversidade pela UFF. Essa modificação do olhar é contagiante e hoje na secretaria em que atuo, temos como meta ampliar a acessibilidade dos espaços públicos através da pesquisa, fomento e produção da tecnologia assistiva. Foi através desse fortalecimento da necessidade de inclusão que a Plataforma Urbana Digital da Engenhoca foi concebida, com padrões que garantem a participação da pessoa com deficiência. A implantação de um telecentro na Pestalozzi para trabalhar com pessoas com deficiência intelectual também se insere nessa perspectiva.
Flavia: O ‘Niterói Down Click na Beleza’ 2019 veio com a proposta ‘Não deixe ninguém pra trás”. Qual o maior retorno de um evento como esse em nossa cidade?
Adriana: O nome da campanha remete à necessidade de redefinirmos nossos padrões de beleza, destacando a beleza da diferença. Essa campanha já virou referência na cidade como uma ação importante na luta pela inclusão da pessoa com deficiência. Em função disso, no último fim de semana no Campo de São Bento, contamos com a participação de muitas pessoas. Essa compreensão nos impulsionou a criarmos, inclusive, a campanha de conscientização do autismo em Niterói, que terá início na semana que vem e vai contar com várias atividades ao longo do mês de abril. Assim, vamos ajudar na construção de uma cidade melhor para se viver para todos efetivamente, sem que ninguém fique pra trás. As oportunidades no campo do mercado de trabalho ainda são muito restritas para as pessoas com deficiência.
Flavia: As escolas estão mais preparadas, hoje em dia, para receber alunos com Síndrome de Down? Qual a orientação você pode oferecer aos pais que buscam escolas para seus filhos?
Adriana: Com certeza, as escolas estão bem melhor do que há 15 anos. Avançamos na perspectiva da aceitação social, mas ainda precisamos avançar na educação plena para os nossos filhos. Para além da aceitação, eles têm assegurado o direito ao desenvolvimento cognitivo também. Mas essa luta é diária e os pais têm que acompanhar e cobrar mesmo.
Flavia: O que ainda falta na sociedade para que a inclusão social seja uma realidade para todos, de maneira que ninguém fique para trás?
Adriana: Falta compreendermos que todos temos nossas singularidades, o que nos torna diferentes uns dos outros. Falta desconstruir padrões homogêneos, tão arraigados em nossa sociedade. Falta, ainda, darmos mais oportunidades a todos, sem deixarmos ninguém pra trás. A inclusão precisa acontecer em todos os espaços da sociedade. Todos somos sujeitos de direitos.