Uma imersão no passado familiar, reinventada pelo olhar contemporâneo da tecnologia. É essa a experiência oferecida pela exposição *Minh’alma Nossa alma*, da artista visual Mary Dutra, que estará em cartaz a partir de 23 de novembro no Espaço Cultural Correios Niterói. A mostra, com curadoria de Fernanda Deminicis, é um projeto inédito de Mary, que revisita a história de quatro gerações de artistas de sua própria família — incluindo seu pai, avô e bisavô —, criando diálogos inéditos entre passado e futuro por meio da inteligência artificial.

Resultado de uma pesquisa intensa que atravessa quase um século, de 1928 até hoje, a exposição propõe um encontro entre o legado artístico da família de Mary e as possibilidades da tecnologia contemporânea. Aproximadamente 70 obras, incluindo pinturas e livros de poesia, foram reimaginadas e reinterpretadas em novas criações, que incluem instalações, poemas, vídeos e experimentos com inteligência artificial. A entrada é gratuita e a mostra ficará aberta ao público até 18 de janeiro de 2025.

Uma ponte entre gerações

Mary Dutra traz uma perspectiva única ao reinterpretar obras de artistas que vieram antes dela, como seu pai C.M. Paula Barros, que ainda pinta, e seu avô e bisavô, ambos artistas renomados no Rio de Janeiro e no Pará. As quatro principais salas do espaço expositivo foram transformadas em cenários onde esses universos se encontram. “É uma busca pelo passado, pelas culturas e ensinamentos de outras gerações, junto com novas experimentações. Nossas raízes são nossos pés”, reflete Mary. “O que nossos antepassados construíram antes de nós é o que nos permite moldar nosso presente e futuro.”

Um dos destaques é uma instalação de escombros visuais: uma coleção de 220 fragmentos de palavras retiradas dos livros do bisavô poeta, C. Paula Barros, e reconfiguradas com um toque de inteligência artificial que utiliza o português de 1920. Outra sala traz sons e memórias contadas, com retratos familiares pintados por C.M. Paula Barros e histórias que parecem habitar as paredes.

A mulher como elo

Na sala central, Mary se coloca como uma figura essencial: a única mulher e mãe da linhagem de artistas, ligando as gerações masculinas de sua família. Em um conjunto de 10 painéis de grande formato, ela explora a maternidade e temas como ninho e afeto, utilizando palavras de 1930 que ela reconfigura em poemas contemporâneos. “Neste espaço, trago reflexões sobre o tempo da mãe, sobre a conexão que atravessa gerações”, explica a artista.

Série Póstuma

Outro ponto alto da exposição é a *Série Póstuma*, um conjunto de oito obras em que Mary usa inteligência artificial para continuar o trabalho do avô, Luis Ludovico (Aloysio de Paula Barros), morto há três décadas. Com interferências caligráficas, as novas criações homenageiam e expandem o legado de seu avô, misturando memórias e emoções do passado com as possibilidades do presente.

Além da exposição, Mary Dutra lança um livro que reúne e cataloga a obra completa de Luis Ludovico. A publicação, a ser lançada no dia da abertura, percorre a trajetória do artista, que atravessa o modernismo e alcança o futuro da arte com a ajuda da inteligência artificial.

Serviço

Exposição Individual:*Minh’alma Nossa alma*
Artista: Mary Dutra
Curadoria: Fernanda Deminicis
Período:23 de novembro de 2024 a 18 de janeiro de 2025
Local: Espaço Cultural Correios Niterói – 1º pavimento
Endereço:Av. Visconde do Rio Branco, 481 – Centro – Niterói – RJ
Horário: Segunda a sexta, das 11h às 18h; sábado, das 13h às 18h (exceto feriados)
Entrada:Gratuita

Fotos: Karyme França