Coronel do Corpo de Bombeiros do RJ e ex-secretário de Defesa Civil de Niterói, Walace Medeiros viu de perto a catástrofe causada recentemente pelas chuvas no Rio Grande do Sul. Chamado pelo prefeito Axel Grael para liderar equipes de resgate na região e auxiliar no planejamento da distribuição das doações destinadas ao estado, ele garante que esse é o desastre natural de maiores proporções entre todos aqueles que sua vasta experiência já presenciou.

– Como surgiu a iniciativa de Niterói enviar equipes em auxílio ao Rio Grande do Sul?

Walace Medeiros: Nossa ida para auxiliar a população gaúcha se deu a partir da iniciativa do prefeito de Niterói, Axel Grael, que preside a “Comissão Permanente de Cidades Atingidas e Sujeitas a Desastres” da Frente Nacional de Prefeitos, da qual é vice-presidente. Durante uma reunião, ele verificou a necessidade de os municípios se envolverem diretamente no auxílio ao Rio Grande do Sul e, a partir daí, começamos a trabalhar para planejar e executar as ações.

– Em qual período você esteve no Rio Grande do Sul, e o que presenciou nos lugares onde esteve?

W.M.: Viajei no dia 7 de maio, e ficamos por lá até o dia 12. Pude sobrevoar de helicóptero algumas cidades e digo que nunca vi um desastre tão grande em termos de área atingida. Já trabalhei em grandes catástrofes. Não apenas em Niterói, no caso do deslizamento do Morro do Bumba, em 2011, mas também no Sul da Bahia, em Pernambuco, no Norte e Noroeste do Estado do Rio e, mais recentemente, em Petrópolis. Em nenhuma delas tivemos uma região tão grande afetada.

– E como foi o trabalho? O que o senhor e sua equipe fizeram, na prática?

W.M.: Além de integrantes da Defesa Civil e da Guarda Municipal de Niterói, também contamos com a participação de um grupo de voluntários liderado pelo surfista niteroiense Gabriel Sampaio, que entrou em contato comigo e se ofereceu para ceder jet-skis e uma equipe de pilotos e mecânicos aptos a lidar com os veículos. Juntos, nós realizamos ações de resgate na cidade de São Leopoldo. Eu também estive em Porto Alegre, onde participei de reuniões estratégicas, e nos municípios de Canoas e Eldorado para fazer levantamentos de áreas afetadas e verificar necessidades locais, realizando o planejamento da distribuição das doações enviadas àquelas regiões.

– Como o senhor avalia a atuação das equipes que estão trabalhando nessa tragédia?

W.M.: É um trabalho em conjunto, feito com muita união, competência e dedicação. Além da equipe de Niterói, quero destacar a participação de todas as forças governamentais envolvidas nas operações, sejam municipais, estaduais ou federais. Vale ressaltar também a ação dos voluntários, que dedicam seu tempo e recursos para ajudar a reduzir o sofrimento do povo gaúcho. Nessas horas, nós vemos o quanto é importante que as pessoas estejam unidas por uma missão maior. Levamos muita ajuda aos gaúchos, mas também trouxemos de lá muita experiência e aprendizado.

– Após seu retorno a Niterói, o trabalho de ajuda ao Rio Grande do Sul continua?

W.M.: Com certeza. Continuamos enviando doações com o apoio de empresários da cidade, em especial, do nosso Polo Gastronômico. Eles recebem matérias-primas e outros itens vindos do Sul e disponibilizam os caminhões, que voltariam vazios, para levar todo o material doado a ser distribuído às vítimas. Neste momento, também estamos viabilizando, junto à concessionária Águas de Niterói, o envio de motobombas para o município de Canoas. O trabalho não para.

– Qual mensagem o senhor gostaria de deixar para o povo gaúcho?

W.M.: Quero dizer que estamos aqui, de prontidão, para o que der e vier. Por mais que tenhamos experiência nesse tipo de ação, sempre aprendemos um pouco mais em cada operação. O Rio Grande do Sul tem uma população guerreira, forte e batalhadora, que está resistindo bravamente a essa situação. Reforço minha admiração por esse povo e tenho certeza de que, quando isso tudo passar, o estado vai se reerguer e voltar a ser o que sempre foi. Estamos todos juntos nessa luta. Quero, também, agradecer à população de Niterói, que tem enviado muitas doações e boas energias para a população atingida. Estamos dando uma lição de união e solidariedade. Nossa cidade está de parabéns.